A CERVEJA NO BAR

Bianco Cunha
3 min readMay 2, 2020

Acredito que nunca valorizamos a cerveja no bar tanto quanto agora. Pelo menos para mim, o processo já começa com uma decisão que é crucial, definitiva. Algo que muitos negligenciam, terceirizam a responsabilidade e que muitas vezes acabam no pecado omissão pagando o alto custo da ampola 16 reais.

Ao menor sinal de fria gourmet, long neck 16 pratas, já tento me posicionar para evitar o pior. Faço meu lobby para que o pé sujo seja privilegiado, desprezando completamente o ambiente cool/descolado onde os preços são normalmente proibitivos ao bolso do proletário. Neste ponto sou absolutamente parecido com os barões do capitalismo: tem que fazer o dinheiro gerar riqueza.

É por isso que escolher o bar é o primeiro e talvez mais importante fator relacionado ao sucesso da cervejinha do sábado fim de tarde. E que falta vem fazendo essa escapadinha nas tardes de sol, em que o confinamento é a escolha sensata para que aqueles que podem ser dar a este privilégio.

Dos meus, sinto falta do Portella. Permita-me conduzir você que está lendo ao meu reduto. O Portella fica aqui pertinho. Nada mais do que 10 minutos de uma caminhada em descida. O bar fica em uma rua sem muito movimento, ambiente propício ao crime perfeito da cerveja despretensiosa. De frente tem uma padaria que tem um PF excelente a custos acessíveis. Até chegar lá vamos conversando sobre como está a vida, sobre as novidades que a distância não nos permitiu falar.

Ao chegarmos no Portella, sentamos em uma mesa do lado de fora. Alerto a você que nem sempre é assim. As sextas o ambiente é disputado pelos engravatados, pelos barrigas de balcão e pelos cadeiras cativas, uma turma que sempre está lá fechando a semana de geração de PIB. Sábado a tarde é mais tranquilo, mas depende. A comida é boa e nem sempre há lugar disponível. O Portella é daqueles que exibe com orgulho os recortes de jornal que exibem a qualidade de seus pratos. Demos sorte.

Mesinha de madeira, 4 lugares, simplicidade. Ali da para pegar esse solzinho de final da tarde. O Portella é uma mistura de culinária mineira e do norte, decoração colorida, ambiente bamba. Me chamam a atenção as “marias namoradeiras” que ficam em uma das aberturas para a rua.

O bar é também reduto da torcida do Atlético Mineiro que aos domingos assiste o galo pelejar. Torcida que foi responsável por incluir um prato no cardápio: o pão de queijo recheado com lombo. Que beleza de prato. São 6 unidades fartamente recheadas. É essa a nossa pedida junto com uma brahma gelada a 9 reais (preço excelente para São Paulo).

Ao fecharmos o pedido, Gil, o garçom, pergunta se vamos querer algo mais. De tantas vezes que já fui e de tantas vezes que já tomei, peço a Jangada. Levei meu pai lá e ele até hoje me pergunta da Jangada. Jangada Palha é uma cachaça paraibana excelente. É aquela descoberta, aquele segredo que revelamos apenas aos mais íntimos. E lá vem a jangada com a Brahma gelada, o sol queimando as canelas, zeca pagodinho tocando no DVD casa do Zeca e daqui a pouco chega o pão de queijo com lombo.

Gil traz a pimenta para rechear o pão de queijo. Ela é amarela, vem em um potinho de metal pequeno e delicado com alguns grãos. Eu gosto. Faço o alerta a você que me acompanha:

-meu amigo, bota pouco pois essa aí arrebenta o rabo.

A cerveja está geladíssima. Aquele gole no gelol e uma bicada na jangada. Abriu o apetite. Daqui a pouco chega o prato. Vamos falar um pouco da política. Que absurdo.

Que tarde boa.

--

--